segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Marie Antoinette

Marie Antoinette (Maria Antonieta) - Sofia Coppola, EUA/JAP/FRA, 2006

Ontem, finalmente assisti a Maria Antonieta de Sofia Coppola. E digo assim, determinando a "dona" do filme porque é isso mesmo que Sofia é: dona de seus filmes, de suas obras. Depois de avacalhar sua carreira com um início nada promissor e bastante atrapalhado como atriz em "O Poderoso Chefão - Parte III" dirigido pelo paizão Francis Ford Coppola, Sofia se reinventou como diretora.
Começou com "Virgens Suicidas" um ótimo filme, bem dirigido, sério. Depois disso, COMETEU o absurdamente bom e para mim maravilhoso, "Lost in Translation", onde a virtuose aflorou em definitivo. Além de fazer um dos filmes mais belos sobre a estranheza do amor, conseguiu, ainda, em um mesmo momento, dirigir um ídolo seu, Bill Murray, e mostrar para o mundo o verdadeiro talento de Scarlett Johansson, que posteriormente viraria a queridinha de ninguém menos que Woody Allen.
Em apenas três filmes Sofia já mostrou a quê veio. Seus filmes são perfeitamentes reconhecíveis. A sua verve pop transborda em seus trabalhos. Música, para ela, é elemento definidor de suas ambientações. E a música aqui é sempre um pop, um rock de qualidade.
Bem, mas vamos ao filme.
Confesso que filmes históricos, como este "Maria Antonieta", que se passa na França mas falado em inglês, me irritam bastante. Respeitar a língua original, para mim, é primordial.
Assim, tinha eu, claro, um pé atrás com o trabalho.
Porém, sendo um filme de Sofia Coppola, é claro que eu tinha que assistir.
E assim como "O Pianista" de Roman Polanki (que sofre do mesmo problema da linguagem) "Maria Antonieta" me conquistou!
E me conquistou porque é pop até o talo!
Trata-se da história da última rainha da França, aquela que seria, durante a Revolução Francesa, decapitada, por, entre outras coisas, mandar o povo comer brioche na falta de pão.
E é exatamente essa Maria Antonieta que Sofia quer mostrar: fútil e alienada dos problemas reais.
Entretanto, a Maria Antonieta do filme, apesar de fútil, é sim encantadora. E não somente porque está muito bem representada pela competente Kirsten "Drunk" Dunst (que alíás eu não gosto muito), mas principalmente porque foi pensada como uma adolescente desencanada e subversiva, tão indie e maluquinha quanto a nossa Lovefoxxx!
E os elementos indies se espalham ao longo do filme, a ponto de conduzi-lo. A cena em que Maria Antonieta está escolhendo seu sapato e rapidamente aparece um All Star mostra bem isso.
O futuro rei Luiz XVI (representado por Jason Schwartzman) também está ótimo em sua insistente incompetência em cumprir suas obrigações de marido e deflorar a noiva!!
A princípio o filme pode parecer uma mera paródia feita a uma figura controversa. E acho que foi isso que levou as pessoas a se levantarem e deixarem a sala de projeção em Cannes quando da exibição do filme naquele país.
O tom pode ter sido recebido pelos franceses como de deboche. Mas não é.
Maria Antonieta, o filme, é uma obra única, de uma diretora única, que só consegue pensar o mundo através de uma visão pop e por vezes subversiva.
A intenção de Sofia Coppola, tenho certeza, não é a de agredir, mas sim de se firmar como grande realizadora que é, utilizando sempre uma linguagem mínima. Porque suas obras são realmente paradoxais: grandiosas porque mínimas, clássicas porque pop!
Hã, a história do filme? Assistam, vai valer muito a experiência!!!

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi!

Nunca vi alguém conseguir lidar com o tédio com tanta perfeição. Ela é maravilhosa nesse sentido, sabe. Todos os filmes abordam tédio e são construções tão ricas. Adoro a Sofia. Pra mim ela é fantástica.

Abs

jamagonça disse...

Que bom que gosta dela. Eu também sou apaixonada pelo seu trabalho!
Grata pela visita, Maitê.

Marcus Vinícius disse...

Pois é, pode parecer estranho mas eu fiquei meio em dúvida sobre esse filme. A produção e direção são muito boas, eu adoro a Sofia e também considero 'Encontros e Desencontros' um filme nota 10, mas tem momentos que 'Maria Antonieta' fica muito chato.

Beijão!

Anônimo disse...

Esses franceses que vairam o filme são metidos e frescos. A cada filme gosto mais da Sofia Coppola. Os enquadramentos, a música, as atuações etc tudo muito "cool". Por isso que sempre digo que o cinema precisa de mais diretoras mulheres.

Wanderley Teixeira disse...

Tb tive uma ótima impressão de Maria Antonieta, para mim o melhor da Copolla(naum gosto muito de Encontros e desencontros).Acho q a visão pop dela, e o retrato da monarca como um ser alienado mas naum menos humano e compreensivo um achado.Por tais sutilezas,como a citada por vc do All Star, acho q Copolla conseguiu o ápice, pena que tenha sido interpretada erroneamente e injustamente.

jamagonça disse...

Gente, todos os gênios são maus interpretados!
Para aqueles que acharam o filme chato, imaginem o mesmo filme, feito por um diretor careta, sem a verve pop da Sofia? Acho que seria muito chato, não?
Além do mais, a Sofia tem que ser entendida na sua essência, e a Maitê traduziu bem isso aqui, ao analisar que o cinema da Sofia é sobre o tédio! Reparem que ela lida com o tédio da melhor maneira possível. Para perceber isso tem que assistir seus três filmes. O tédio está lá, mas muito bem trabalhado.
Assim, se formos analisar sob esta ótica, imprimindo uma classificação para ela, já estamos diante de um gênio. E os gênios são analisados assim. Vejam, por exemplo, o Michael Haneke, que já é considerado o diretor da intolerância. Seus filmes são sempre sobre isso.
E a "nossa" Sofia já tem uma identidade cinematográfica muito bem definida: ela é a diretora que fala sobre tédio imprimindo uma visão extremamente pop.
Grande abraço a todos que estão participando deste post.