segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Last Days

Sabe o que era mais interessante em Kurt Cobain? Sem dúvida a sua dualidade.
Se em cima de um palco ele era absolutamente agressivo, voraz, tão roqueiro que virou um clichê dele mesmo, longe das luzes ele era doce e ingênuo. Quem já leu alguma biografia sua sabe disso.
Sua dependência e seus problemas com drogas e, principalmente, heroína, surgiram mais para aplacar a sua incurável dor de estômago do que como resultado do ambiente em que cresceu. Nascido na cidade de Aberdeen, o que se poderia chamar de algum lugar meio esquecido do Estado de Seattle, o ídolo que aprendemos a idolatrar teve uma infância pobre e problemática. Após a separação dos pais, Kurt morou com vários parente e amigos. Era o tipo de pessoa que dormia em qualquer sofá que lhe oferecessem. Desde muito cedo interessou-se por música e guitarras. Sua genialidade (ou loucura?) formou-se a partir da adolescência, quando começou a demonstrar seu interesse pelo kirsch, pelo brega, pelo feio.
Vítima, talvez, desse ambiente sem controle, Kurt, apesar de tudo isso, mostrou ser uma pessoa doce. Com sérios problemas, mas doce.
Demorou muito para experimentar drogas pesadas. E o fez, como já mencionado logo acima, mais para aplacar a sua dor de estômago do que para fazer parte do todo rock and roll ao qual passara a pertencer. Afinal, Kurt era outsider e não precisava imitar ninguém, nem mesmo seus ídolos. Hoje já se sabe que Kurt Cobain tinha um problema congênito, uma veia na parede de trás de seu estômago era constantemente pressionada por uma costela, o que gerava as dores intensas e o seu desespero. Ironia: talvez se soubesse disso, teria se preservado. Não, acho que não!
Enfim, um gênio ou um louco que deu cabo da própria vida porque não aguentava mais viver a fama e o sucesso? Não sabemos hoje e talvez nunca saberemos. A única certeza é a da sua importância para o rock and roll e para o meio pop.
Falei tudo isso aí em cima só para dizer que assisti ao filme do Gus Van Sant, Last Days, e gostei,
Gostei, principalmente, porque o Blake do filme (ligeiramente inspirado em Kurt, segundo o próprio diretor) é doce, muito doce. Doce mesmo estando em um estado letárgico e planejando suicidar-se.
O filme foca os últimos três dias de vida de Kurt, ops, Black, um astro do rock que não suporta mais a vida que leva. Após fugir de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, volta para sua mansão, onde fica por volta de três dias até ser encontrado morto pelo seu jardineiro.
E é exatamente esses últimos três dias de vida do Kurt que ninguém sabe até hoje exatamente o que aconteceu.
A interpretação que o diretor Gus Van Sant deu aos últimos três dias não é inovadora. Não trouxe nenhuma informação extra. Mostrou apenas aquilo que se concluiu ter acontecido após uma investigação policial. E o que o Kurt fez nesses últimos três dias de vida? Está lá, no filme, na figura frágil de Black, divinamente interpretado por Michael Pitt.
Se eu gostei do filme? Gostei, gostei muito. Não é um filme fácil de digerir. As cenas são demasiadamente lentas. Mas é um trabalho autoral, bem centrado e muito digno do diretor Gus Van Sant.
No entanto, apesar de ter gostado bastante do filme, ainda tenho como sonho de consumo assistir à vida de Kurt Cobain contada pelo excelente Milos Forman, filmografista de primeira. Quem sabe um dia??????


2 comentários:

Marcus Vinícius disse...

Eu até gosto do Gus, esse filme até ficou bem feito e tals, mas parece ter o dobro de tempo.

Beijos!

Anônimo disse...

Esse é um dos piores filmes a q assisti nos últimos tempos. A cena do BOYZ II MEN é impagável. Mas achei essa idéia do Milos Forman ótima!