terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"O gigante que mastiga estrelas"


As constelações já disseram, em linguagem de estrela, que o tamanho de todos equipara-se à imensa extensão de um grão de areia. E a matéria canta, em quanta, e tanto, que em partículas ainda menores que a extensão de toda ciência conhecida reside a essência de toda matéria.
No universo, o bom mesmo é ser pequenino, não de pouca força ou frágil, mas pequenino. Parece-me que isso é, de fato, apenas a conseqüência de uma boa olhada nas coisas como elas efetivamente são.
Entretanto, é na ilusão das aparências que o céu se perde em azul profundo...
E o azul, onde eu me perco percorrendo com meu olhar, é tão bonito de se ver que, reparem, nada que se coma por aí é naturalmente azul. Segundo a natureza, o azul é tão bonito que não comestível... Existe uma fruta azul? Azul de comer? Só se for chiclete... Uma irritante fruta que tem o poder de transformar os homens em ruminantes...
Eis que um velho bicho-grilo contou-me, certa feita, que já houve um gigante, que mastigava as estrelas. Cricrilava o tal doido que não sabia como o gigante conseguia mastigar coisas tão pontiagudas...
Enquanto isso, sabedor da forma esférica de tais astros, eu imaginava o gigante estourando bolas de estrela de mascar, com feixes de luz intermitentes a cada vez que ele abrisse e fechasse sua boca, como se fosse um gado faminto num pasto brilhante de estrelas azuis...
O gigante deve andar de terno e gravata por aí, assinando tratados, elaborando leis, julgando pessoas, fazendo discursos, mastigando as estrelas e pisando nas pessoas, sem olhar ou ver. E nem adianta mostrar. Ele não consegue ver, sequer, que, a cada estrela mascada, a noite fica um pouquinho mais escura.
Dizem, também, que o gigante sofre de queimação estomacal e que lhe fora diagnosticada, se bem que precocemente, uma úlcera. Aliás, os médicos dizem que tudo isso se dá, devido às altas doses de hidrogênio que compõem a dieta do gigante, que, compulsivamente mastiga as estrelas e com elas assopra bolas de luz.
Pobre do gigante, que não consegue ver as menores coisas, porque grande, e que se ilude pensando que é muito grande, porque pequeno... Acorda, gigante, grande é o pasto! O pasto que não tem úlcera no estômago e sempre está disposto a brincar com o infinitamente pequeno, fazendo brotar novas estrelas, que ainda vão matar o tal gigante.


Eduvaldo Costa Junior. Poeta. Músico.

2 comentários:

Anônimo disse...

Emocionante...mas sem querer ser pedante. Num lugarzinho do cerrado tem uma frutinha chamada araça azul, o mesmo fruto que deu nome ao disco experimental, do Caetano. O universo nos supreende e nos deu esse presente saboroso e pouco conhecido. Não importa. De perto é negra e na medida em nossos olhos se aprofundam em sua pele, nas mais profundas camadas de seus átomos, nos deparamos como um universo azul. Juro! Não tomei ácido...a frutinha existe e às vezes são carregadas pro caracóis gigantes, destes que vivem embrelhados no cerrado. Beijos a todos..Valeu!

jamagonça disse...

Anônimo!!!! Quem és tu!!! Identifique-se!!!!! Deleite-nos com seu conhecimento e sensibilidade!!!